Saúde da mente no ambiente corporativo

Publicado por: Redação
02/11/2021 18:15:37
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Cortesia Pexels
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As empresas devem se responsabilizar pela saúde da mente dos seus funcionários?

 

Por Isabel Marçal

No Brasil, muitas empresas começaram a olhar para a questão da saúde da mente dos colaboradores, entretanto, de forma muito individualizada e com recorte pouco multidimensional. É sintomático que a saúde da mente tenha entrado, na maioria das companhias, pela porta da diversidade. Afinal, essa porta expressa e externa a forma como o assunto é visto. Em português claro, uma temática pautada pela exclusão! Há aproximadamente 40 anos, os manicômios ainda eram estabelecidos no Brasil; todos os indivíduos que não se encaixavam na sociedade e/ou possuíam algum grau de doença psíquica eram internados por tempo indeterminado e submetidos a práticas desumanas. Afinal, este sujeito não estava apto a produzir e com isso não tinha função social. Na prática, ainda é necessário quebrar esse paradigma para passarmos a enxergar que a saúde é uma questão coletiva e multifatorial. É necessário, também, parar de culpar o profissional. 

 

Qual é o papel das empresas e dos líderes na promoção e na prevenção à saúde da mente dos colaboradores? Mais do que uma pergunta, essa é uma reflexão social muito importante, sobretudo pelo momento que vivemos. Anos antes da pandemia da Covid-19 já era possível enxergar os reflexos da vida moderna e da conduta profissional na saúde mental dos brasileiros. Um relatório da Organização Mundial da Saúde – publicado em 2015 e atualizado em 2017 – já alertava para o fato de o Brasil ser o campeão mundial em casos de ansiedade e o primeiro em ocorrências de depressão da América Latina. Na prática, ocupamos postos em um ranking muito preocupante!

 

A mesma OMS previu que, em 2020, a depressão se tornaria a maior causa de afastamentos no trabalho e que, até 2030, essa será a doença mais incapacitante do mundo. A previsão se confirmou no início do ano passado, fazendo com que os transtornos mentais – depressão e ansiedade – se tornassem a principal causa de pagamento de auxílio-doença, superando a campeã da lista, que são as lesões causadas por fatores externos, como acidentes. Ou seja, o impacto dessas condições tem afetado diretamente o mundo do trabalho.

 

Uma pesquisa da International Stress Management Association (ISMA), no Brasil, constatou que 32 milhões dos profissionais brasileiros sofrem com Síndrome de Burnout, sendo que 70% deles sofrem com algum grau de estresse; 49% dos profissionais apresentavam depressão; e 90% das pessoas praticavam o presenteísmo. Com esse cenário já era necessário tomar medidas e mudar hábitos na rotina de todos, mas com a pandemia do coronavírus, algo se agravou e nos mostrou que negligenciamos a saúde mental por séculos.

 

A pandemia lançou luz a graves problemas da sociedade, inclusive, à saúde da mente – e temos que aproveitar este momento para debater amplamente a questão. Muitas empresas começaram a olhar para essa questão, entretanto de uma forma muito individualizada. Ainda é necessário quebrar o paradigma que nos viciou a olhar para a saúde da mente pela ótica individual, pois ela também é uma pauta coletiva. As empresas devem abrir espaços de conversas e escuta ativa sobre os temas relacionados à saúde da mente – rodas de conversas, palestras e workshops –; promover atividades que estimulem a comunicação entre as equipes e, principalmente, entre os colaboradores e líderes. Além de oferecer apoio psicológico para aqueles que necessitem por meio de parcerias, sem retaliações de qualquer espécie.

 

Nos workshops ministrados pelo Instituto Bem do Estar – dentro do projeto Estars no Trabalho –, notamos muito interesse e excepcional engajamento dos colaboradores para além da clara necessidade de entender mais sobre as questões e, principalmente, aprender a lidar melhor com as emoções e os sentimentos. A nossa experiência em ambientes corporativos nos mostrou que as transformações em uma empresa têm início com a adesão genuína dos líderes, por isso, é necessário ter uma atenção especial com eles, pois só assim será possível gerar uma mudança de cultura favorável para todos.

 

Um outro recorte do tema mostra que é essencial refletir sobre os motivos de a saúde da mente ter entrado, na maioria das empresas, pela porta da diversidade. Afinal, essa porta expressa e externa a forma como o assunto é visto. Em português claro, visto e pautado pela exclusão! Há aproximadamente 40 anos, os manicômios ainda eram estabelecidos no Brasil; todos os indivíduos que não se encaixavam na sociedade e/ou possuíam algum grau de doença psíquica eram internados por tempo indeterminado e submetidos a práticas desumanas. Afinal, este sujeito não estava apto a produzir e com isso não tinha função social. Mas, as práticas terapêuticas manicomiais continuaram a ser utilizadas e, desde 2019, voltaram a ter frequência. No Sistema Único de Saúde (SUS), inclusive, eram respaldadas por movimentos políticos, mostrando que ainda estamos longe de tornar essas práticas inexistentes. Essa porta de entrada também reforça, e muito, a ótica individualizada e nos distancia de olhar a questão como coletiva.

 

Existem empresas que endereçam a saúde da mente pelo viés de gestão de pessoas, ou seja, focando na saúde física e social. Então, por que somente um terço do tripé que constitui a saúde pela OMS é endereçado pela diversidade? Essa é uma questão que precisamos, como humanidade, responder.

 

Isabel Marçal é especialista em gestão de projetos sociais, com 17 anos de experiência no setor de Impacto Social e, no momento, especializando-se em Psicanálise. Apaixonada pela vida, pelos seres humanos e suas relações, sonha com uma sociedade mais saudável e justa, por isso, acredita que o primeiro passo esteja na consciência individual de cada ser humano. Atualmente é presidente e cofundadora do Instituto Bem do Estar.

 

Sobre o Instituto Bem do Estar | Fundado em 2018 por Isabel Marçal e Milena Fanucchi, o Instituto Bem do Estar é um negócio social sem fins lucrativos voltado à promoção da saúde da mente.

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